malas e as coisas que eu deixei para trás
um texto mal feito sobre o que estou sentido ao mudar de país
Paguei uma taxa de 250 reais por excesso de peso na minha mala de 23 kg, que no fim deu 26. E isso porque eu tirei uma penca de coisa que, parando para pensar agora, me arrependo de ter tirado. Baboseiras, objetos soltos sem um propósito definido no meu dia a dia, mas com um impacto emocional forte na minha psique — um suporte que eu não gostaria de ter deixado na minha cidade.
Há muitas coisas que eu não queria ter deixado lá. Meus livros — eu provavelmente não os leria, mas gostaria de tê-los comigo. Meu material de social media, que eu também não usaria. E outras pessoas que, por uma conveniência muito chata, não podem ser despachadas à parte. Essa é a parte triste de mudar de país: você não pode levar pessoas.
E eu não sou alguém que chora — ou que sente saudade, de um modo geral — mas ontem, no dia em que embarquei no Aeroporto de Manaus para deixar para trás uma vida, acompanhado de apenas algumas das pessoas que eu amo demais, foi um dia de choro. Fiquei surpreso comigo mesmo, com o poder da minha sensibilidade e das lágrimas.
Em Divertidamente, tem aquela cena que mostra como a Tristeza é importante, né? Como ela alivia, como o choro seria uma ferramenta sentimental-biológica pra acalmar a mente. Mas é mentira. Eu não entrei na área de embarque me sentindo leve. Entrei me sentindo pesado, deslocado, errado.
Eu sou muito das pessoas, dos meus amigos, da minha comunidade — se é que posso chamar assim. Gosto de estar entre entes queridos, com as pessoas que eu amo e que, pasmem, me amam. Eu falei isso no texto da Gustopensa na semana passada, sobre como descobri que sou amado — e ontem, descobri de novo.
Passei meu último dia em Manaus rodeado dessas pessoas. Fiz questão. Queria que estivessem comigo, como se fosse meu último dia antes de desligarem as máquinas e deixarem que uma doença terminal me levasse. Isso sim foi leve — o mais leve possível. Nos divertimos, rimos, conversamos, ficamos nostlágicos contando as histórias da minha perturbada mente na minha adolescência e vendo clipes de música pop.
Passei a maior parte desse dia com meu, até então, namorado (não sei o que somos agora — o sentimento está ali, e eu não sei o que fazer com ele). Ainda estamos conversando — óbvio, cinco meses não somem do nada. Achei que sumiriam, não vou mentir. Sou sagitariano, um espírito livre que não gosta de se prender, mas eu daria de tudo para estar preso com meu até-então-namorado agora. Mas eu não vou jogar tudo fora.
Foi um risco calculado: entrar num relacionamento fadado a acabar, sob a promessa de viver os dias que tínhamos. Mas agora eu quero mais dias. Eu quero mais tempo. Mas não dá. O dia chegou, eu fui embora, e ele ficou. As coisas são assim.
E tenho muito medo de ele ficar só, assim como tenho medo de a minha melhor amiga ficar só. Por isso, intimei os dois a se unirem, serem amigos, conversarem — por mim e por eles. E a resposta dela foi essa:
Acho que sonhos e sentimentos são as coisas que mais pesam na minha bagagem. Estou deixando uma penca de pessoas que eu amo, com quem tenho contato todos os dias da minha vida. Menti pra mim por muito tempo, achando que as coisas iam continuar iguais. Mas não vão. Não tem como serem, quando tudo é diferente. Eu ainda não fiz as pazes com esse sentimento.
Eu também ainda não fiz as pazes com muitos sentimentos — e agora preciso levá-los comigo. Baita problemão.
Ainda não caiu a ficha de que eu fui embora. Pra mim, estou de férias no Rio de Janeiro por nove dias, e logo volto pra casa: para a minha família, meus amigos, meu namorado e minha mãe. Meu Deus… minha mãe.
Enquanto embarcava no primeiro avião, de Manaus para Campinas, me perguntava o que estava fazendo. Será que tomei a decisão certa? Será que é para eu ir embora e lutar pelo meu sonho de ser escritor lá fora? Será que minha jornada não é no Brasil? Será? Será? Será? Será? E se eu ficasse? E se eu mudasse de carreira? E se eu fizesse tudo diferente?
Existe uma frase em As Crônicas de Nárnia que o leão Aslam — a.k.a. Jesus — diz, e que me persegue: é impossível saber como as coisas seriam se trilhássemos outro caminho. Eu gosto dessa frase. Penso muito nela, todos os dias. Sou uma pessoa bem paranoica, e mudar de país, que uma decisão tão definitiva, me provoca esse tipo de reflexão o tempo inteiro.
Eu quero ficar? Adoraria. Me arrependo da decisão? Ainda não. Quero primeiro viver. Fazer as pazes com a ideia de que pode não dar certo — e que tá tudo bem se eu quiser voltar. Esse conceito ainda martela minha cabeça, com doses de culpa e autocrítica. Eu mesmo me digo: "tem que ser incrível! tem que valer a pena!" E se não for? O que eu faço?
Eu também não sei. Semana que vem a gente fala sobre isso, já em terras irlandesas. Eu vou explicar direitinho o que estou fazendo. Mas hoje não… hoje eu só vou sentir.
Sugestão de Música
Assim…
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em tudo!
Te desejo boa sorte nessa nova fase. O sentimento é ambíguo. Parte chora por deixar e parte anseia pelo novo. Com medo, mas anseio pelo novo certo. Que de muito certo para ti e que esse novo caminho lhe traga tudo de incrível!