eu estou muito velho para isso. eu tenho 23 anos
meu deus como eu to desacreditado. /help
Que a vida é feita de fases, a gente já sabe. Mas elas não funcionam como num joguinho: você não vai somando habilidades até chegar no nível 500 com cyberengenharia avançada e malabarismo com facas nível 10. Não. Crescer, na vida real, envolve perder dons, talentos, superpoderes — e alguns direitos, inclusive. Eu, por exemplo, estou constantemente perdendo direitos. E, se a extrema direita continuar subindo, não sei nem onde vou parar. Por mim tá ótimo. É isso que eu quero. Eu quero não poder fazer NADA.
Críticas políticas à parte, esses dias eu estava ponderando sobre coisas que eu não posso mais fazer. A idade vem cobrando. Dizem que os 20 anos são a década oficial do “errar e se foder”. Eu levei esse conselho ao pé da letra, modéstia a parte, só não esperava me foder tanto.
Então esse é um texto amargurado, um texto chato e irritadiço. Sinto muito. Qualquer reclamação ligar para minha terapeuta Dra. XXXXXX XXXX. (Terapeutas são doutores? Como chamo minha terapeuta? De ‘Você’? Me soa muito pessoal).
Uma das primeiras coisas que eu oficialmente estou velho demais pra fazer é: ficar bêbado. Não dá mais. Tá fora do meu orçamento e, mais grave ainda, fora da minha capacidade física. Dos meus 16 até uns 21 - 22 anos, eu tinha um dom. Um talento raro. Um superpoder, até: a imunidade à ressaca. Eu bebia como um tiozão carioca e acordava no dia seguinte completamente paralelo à ressac, pleníssimo, sem nenhum problema na minha vida para me abalar. A vida era perfeita. Deus exisitia. E Ele me puniu.
Eu, achando que era invencível, fiquei arrongante e, tal qual Ícaro, voei muito perto do sol. E o que aconteceu? Exatamente. Eu me fudi.
Hoje, não só tenho ressaca — eu tenho A Ressaca™. Daquelas que te deixam morto por dois dias. E o pior: eu me recuso a beber água, porque tenho certeza que ela vai bater no estômago e me deixar mais enjoado ainda. Sim a minha mente não faz sentido. No último fim de semana, por exemplo, minha mãe praticamente me enfiou uma garrafa d’água goela abaixo. E, pasmem, eu melhorei. Quem diria, né? Mãe dando conselho certo... uma novidade aí pra neociência Gen Z estudar.
Então, esse é um pedido oficial pros meus amigos que leem essa coluna (são dois, eu tenho dois amigos). Vocês vão ter que repassar esse recado pros outros amigos que me amam menos, já que não acompanham meus textos: não me chamem pra cachaça. Nem pra bebedeira, nem pra sair à noite e beber. Nem pra qualquer configuração de rolê do tipo. Porque eu vou aceitar. Eu sempre aceito. E além de gastar um dinheiro que eu não tenho, vou acordar podre no dia seguinte. E nenhum de vocês que me odeiam vai estar por perto pra enfiar uma garrafa pet de água na minha espinha dorsal.
Outra coisa que eu não posso mais ter: sonhos. Pelo menos não sonhos novos.
Eu já tenho uns dois ou três que estão em estado crítico, e que eu tô tentando manter vivos na UTI. Não dá pra alimentar esperança nova quando você mal consegue cuidar da que já tem. Alimentar sonhos exige tempo e criatividade. E eu tô operando no varejo: minha criatividade vem quinzenalmente e eu gasto tudo pra escrever esses textos aqui, de nada.
Ah, eu no meu auge… minha prime era. Se eu tivesse a criatividade no atacado, aí sim. Aí vocês iam conhecer o verdadeiro “eu”: o cara que escreve texto todo dia, que publica livro atrás de livro... Mas eu publiquei um, e morri. Morri no flop ainda. Um fim digno para um escritor amargurado e meia boca.


Nada vale a pena e todos vamos morrer — há um certo niilismo na minha cabeça ultimamente. Um niilismo freestyle. Porque, se for parar pra pensar no conceito filosófico do niilismo, mesmo, aí já complica. O que eu tô dizendo, no fundo, não faz o menor sentido com o que foi determinado por Nietzsche.
Tenho ficado cada vez mais cético com a vida. Meus olhos, antes cheios de brilho (ou pelo menos alguma faísca), estão mais opacos a cada dia. Não sou mais aquele garoto que via o mundo com positividade gratuita e esperança de brinde. E, olha, não é por gosto. Eu amava ter aquela ansiedade invertida, sabe? A clássica: “E se tudo der certo?”
Hoje em dia, minha filosofia é mais um “Foda-se tudo. Vai dar errado mesmo.”
Por quê? Porque se der errado, eu já tava esperando. Mas se, por um milagre, der certo... surpresa boa. No fim das contas, é uma autodefesa emocional meio torta, mas eficiente. Eu só tô tentando me proteger de mais uma decepção.
Está tudo bem, amanhã tenho terapia.
O texto acaba aqui porque ele é, na verdade, uma transcrição (com adaptação e edição), de um áudio que eu mandei há uns dias. O problema é que eu estava com muito sono, e agora já não lembro mais o que queria dizer na hora.
E aí temos mais uma coisa pra qual eu tô velho demais: dormir tarde.
É isso. Espero que tenham gostado. Semana que vem (ou na outra, quem sabe) vai ser um texto mais legalzinho.
Eu já me arrependi dessa promessa.
Tchau.
Sugestão de Música
MAYBE I MAYBE I MAYBE I’M THE PROBLEEEEMMM
criei essa newsletter pra alimentar um hobbie. Não me siga nas redes sociais que por acaso é @ogustoalves
Ta na hora de curar essa depressão